A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou nesta quinta-feira que Kaleb Gabriel da Cruz, de 2 anos, foi afastado da Unidade de Pronto-Atendimento de Ricardo de Albuquerque (UPA), na Zona Norte do Rio, pela mãe Aline Júlia da Cruz Conceição e pelo padrasto Matheus Pereira Rufino Isidoro, sem alta médica.Segundo nota oficial, após relatarem que o menino sofreu uma queda ao cair da cama quando brincava com o irmão e apresentava vômito, os responsáveis optaram por sair da unidade com Kaleb, mesmo depois de terem sido orientados que a criança "fosse encaminhada prioritariamente para um exame de tomografia". Ainda na terça-feira, por volta das 19h, Aline e Matheus levaram Kaleb ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, na Zona Norte do Rio, onde ele fez uma tomografia e foi liberado pelos médicos logo em seguida.
Ainda de acordo com o estado, o menino continuou tendo problemas, apresentando sintomas de náuseas, febre alta e vomitando. Mas, ao retornar ao UPA de Ricardo de Albuquerque, acompanhado da família, já estava em óbito.
Aline disse ao GLOBO que a criança estava bem quando deu entrada no Hospital e que o mal-estar começou após Kaleb cair da cama enquanto brincava com o irmão. Na ocasião, a vendedora de bala diz que o menino estava sob os cuidados do padrasto e que não estava em casa no momento da queda. Ela registrou uma ocorrência na 31ª DP (Ricardo de Albuquerque) onde foi instaurado um inquérito para apurar as circunstâncias da morte da criança.
— Eu não estava em casa quando meu filho caiu. Eu tinha levado na UPA, em Ricardo de Albuquerque, mas ele precisava de uma tomografia e foi quando levamos ao hospital. O médico prescreveu medicamentos. Ele só reclamava de dores. Matheus (o padrasto) sempre colocava ele de castigo, mas ele nunca espancou meu filho. Eu não posso mais voltar para minha casa porque estou sendo ameaçada de morte. Se os médicos tivessem feito os exames, eles teriam visto que meu filho não estava bem — afirmou a mãe da vítima.
A versão apresentada pela mãe e o padastro da criança é contestada pela tia por parte do pai de Kaleb. A técnica de enfermagem Érica Lisboa, de 35 anos, tia de Kaleb por parte de pai, disse ao GLOBO que a criança apresentava sinais de maus-tratos. Ela relatou que a mãe da criança chegou a deixá-la morando na casa da avó por um tempo, "por não ter condições de cuidar". O pai biológico de Kaleb, Marcos Vinícius, morreu em março deste ano. Érica detalha que a versão apresentada pela mãe de que a criança teria caído da cama não condiz com a causa da morte.
— Meu contato com a Aline (mãe do Kaleb) foi mínimo. Meu irmão também já é falecido. Ela ficou morando na casa da minha mãe por volta de um ano. Depois disso, ela foi morar na casa do pai dela com o Matheus (o padrasto do Kaleb). Realmente, o registro está suspeito. O legista me disse no IML que o baço do Kaleb estava dilacerado. Ela (a mãe) falou que ele estava vomitando. O hospital não passou nenhum medicamento. Acho que houve imprudência por parte dela. Como ela estava vendo que o Kaleb não estava falando mais e vomitando amarelo, levou ele para casa? Ele tinha muito medo de escuro. A gente viu um sinal no corpo. A atual cunhada da Aline disse que aquilo era uma marca de queimadura.
Érica contou que o sobrinho era uma criança muito alegre.
— Kaleb chegou a ficar na casa da minha mãe por 20 dias este ano. Ele não queria mais voltar para a casa da mãe dele. Aline o deixou na casa da minha mãe com poucas roupas e algumas fraldas. Ela disse que não tinha condições de ficar com a criança. Fui à delegacia para perguntar o que poderia fazer. Eu queria que eles abrissem uma investigação sobre a morte, já que tudo é muito suspeito — afirmou Érica.
Segundo a declaração de óbito, o menino morreu devido a "traumatismo no abdômen, com lesão do pâncreas e consequente pancreatite necro-hemorrágica e peritonite; ação contundente".
O padastro da criança, Matheus Pereira Rufino Isidoro, disse que negociava a venda um telhado com o vizinho quando ouviu um barulho forte vindo de dentro da casa. Ao entrar, ainda de acordo com Rufino, Kaleb "estava caído, com o rosto no chão e a perna pendurada no ferro da cama."
— O laudo da necrópsia não diz que ele sofreu nenhum espancamento. Nossa relação sempre foi boa. Assim como toda criança, quando ele aprontava, eu o colocava de castigo. Estava fora da casa, falando com o vizinho, quando escutei um barulho muito forte. Ele (Kaleb) caiu da cama e o pé ficou preso no ferro da cama. O rosto ficou com a marca do chão. Ele caiu na terça e começou a vomitar e o levamos no UPA. O médico pediu um raio-x do tórax e da cabeça. O técnico disse que não dava para fazer o exame porque um dos aparelhos estava quebrado e nos orientaram a levar para o hospital — explicou Matheus ao detalhar o que teria motivado a queda da criança:
— Kaleb me disse que o irmão dele o empurrou da cama quando estavam brincando. Quando a mãe dele chegou em casa, ele afirmou que o irmão tinha o empurrado. O médico da UPA pediu um raio-x do tórax e da cabeça. Mas, o técnico avisou que não dava para fazer o exame porque um dos aparelhos estava quebrado e nos orientaram a levar o menino para o hospital — concluiu.
Em nota, a Polícia Civil informou que instaurou um inquérito para apurar o caso. Os agentes estão ouvindo testemunhas, levantam informações e realizam demais diligências para esclarecer as circunstâncias da morte da criança.
Fonte: https://extra.globo.com
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